O URBANO EDNARDO, NO DISCO LIBERTREE

DIÁRIO DO GRANDE ABC
São Paulo - SP, maio de 1985
Matéria Condensada - Observações AURA

CARLOS HEE

Para marcar retorno ao eixo Rio / São Paulo, o cantor e compositor Ednardo está lançando pela EMI seu disco LIBERTREE, onde mostra mais uma parte de sua vivência pelo mundo. Cidadão do planeta, o cantor e compositor faz músicas e com isso mexe na engrenagem musical e social.
Depois da explosão da música Pavão Mysteriozo (e outros discos), Ednardo que morava em São Paulo, largou tudo aqui e em 1980 foi morar em Fortaleza. Durante três anos deixou de aparecer com freqüência nos veículos convencionais dos centros geradores de cultura de massa. Sua proposta de trabalho, (durante este período), esteve centrado no Nordeste, promovendo shows e tendo tempo para compor.

Ednardo voltou ao Rio de Janeiro onde mora há um ano. "A memória musical do povo brasileiro, que alguns pensam, adormecida em algum lugar, basta reaparecer, que todo mundo canta.
Nos shows que faço por todo o país, todos sabem minhas músicas.
Durante estes anos estive trabalhando em outro Brasil (do nordeste), pouco conhecido aqui, (do sudeste).

Ednardo fala do preconceito existente em alguns meios de comunicação, exemplifica a revista Veja, que tem como norma só citar artistas nordestinos na condição de criticar negativamente.
E comenta:"Não deve existir separação, somos nordestinos, baianos, cearenses, gaúchos, mineiros, somos brasileiros, mostrando uma parte da imensa cultura do País, (por que é que eles não gostam?).

O disco LIBERTREE é o resultado desse ano vivido no Rio. "É um disco mais urbano onde integro o computador. Venho usando aparelhagem eletrificada a bastante tempo. Em muitos discos anteriores fiz uso de teclados e guitarras, neste, uso aparelhos mais sofisticados, teclados com sintetizadores e programações, bateria eletrônica." Independente de cobranças daqueles que desconhecem a intimidade do músico com estes instrumentos.
No início de carreira, Ednardo, fazia música com sotaque cearense. Naturalmente, devido às raízes trazidas em seu inconsciente. Porém ao mesmo tempo se ouvia junto ao folk da região, o rock. Mistura de influências desembocando num trabalho eletrificado, onde o rock não é o que está se escutando por aí como produto comercial, é muito mais uma filosofia de vida, facilmente identificável na geração dos anos 70.

A grande novidade está na música título, feita em português, inglês e espanhol, uma ampliação do universo poético, porque extrapola fronteiras, e "as palavras devem ser usadas para exprimir e comunicar a necessidade básica de diminuir distância que separa os semelhantes".

Romantismo sempre fez parte de sua poesia de forma sutil, neste disco, Ednardo se mostra romântico em: Que tal nós dois por aí? Bolero meio bossa nova, onde declarações de amor estão estampadas em classificados de jornal e o poeta pede à sua amada, estar perto, para assim existir o grande amor.

O trabalho de capa do disco LIBERTREE (que chama atenção), está a cargo de Tadeu Valério e J.C.Mello que entregaram a concepção gráfica de realização aos artistas gráficos Gringo Cardia e Luiz Stein. Na concepção deste artistas, as cores, foram extraídas de paisagens nordestinas, graficamente modificadas para traduzir a mistura de rock, baião, cordel, samba, e universalidade poética, onde cabelos são flamejantes e o ponto mais importante são os olhos.