EDNARDO - A LIBERDADE DOS SEM FRONTEIRAS

Jornal ÚLTIMA HORA
Rio de Janeiro, quarta-feira, 8 de Maio de 1985
Matéria Condensada
Caderno - O SOM  NOSSO DE CADA DIA

RENATO CÉSAR FILHO

Não sei se necessariamente tem a ver, mas da turma do Ceará (Fagner, Belchior, Ednardo), aquele que menos fez concessões ao sucesso, Ednardo, é o que tem mostrado um trabalho mais sólido e de qualidade acima de qualquer suspeita.
Livre das imagens e músicas de encomenda, Ednardo segue o seu caminho sem rejeitar influências que também são comuns a Fagner e Belchior, mas evidentemente, não tem a mesma compulsão pela consagração pública, pelo menos a ponto de afastá-lo de si mesmo.

Libertree (Emi-Odeon) é o 9° disco solo de carreira de Ednardo, é um disco bonito, de bom gosto, bem arranjado, com músicos competentes e que traz em algumas faixas, uma clara inspiração da música espanhola.

Até a década de 60 os ritmos e estilos musicais eram facilmente conceituados e assim colocados em compartimentos estanques.
Era fox-trote, samba, samba-canção, jazz, blues, tango, mambo, etc., os Beatles chegaram e toda essa organização dançou numa ótima, pra felicidade geral.

As influências mais evidentes em Ednardo, no disco Libertree, são as músicas de cantadores nordestinos, com seus xotes e xaxados, e a música pop internacional.

Dos primeiros, aos quais está ligado por laços de origem, herdou a divisão e o feeling regional, a batida da percussão e arranjos.
Através da música pop, elaborou mais esses arranjos para que não caíssem no simplório.
Neste disco, Ednardo mostra crescimento evidente em relação aos anteriores, tanto poética, quanto musicalmente.
Libertree, a faixa título, com uma marcante batida flamenca.
Alguém Vê, um xote característico do Norte, gostoso, quente, pulsante, com ótimo arranjo.
Agreste Blues, um blue atangado, ou um tango com pinceladas de blues;
Que tal nós dois por aí? - É uma balada que não fica nada a dever às melhores do gênero e que chega com toda pinta de hit;
O Patrão Zangou, passa pelo xaxado com papo de cantador de feira nordestina:
Outro Romance, tem um belo arranjo, conta com a bateria de Paulinho Braga e o contrabaixo de Jamil Joanes (do Som Imaginário) e ainda com a percussão criativa de Repolho.
Depois de quatro anos morando e trabalhando lá pelas bandas de cima do Brasil, Ednardo retorna ao eixo Rio - São Paulo e o tema de suas músicas transita nessa variedade de universos cujo ponto de fixação é uma mera questão estratégica e circunstancial.