MIXTURAÇÃO: UM SONHO EM QUE VALE A PENA ACREDITAR  


Jornal da Tarde
São Paulo, 18 de Abril de 1973

MAURÍCIO KUBRUSLY


Maranhão, o nome mais conhecido.


As promessas vem da Bahia - Simone.


- Ou do Pessoal do Ceará - Rodger, Tetty, Ednardo.

A estréia de "Mixturação" (TV Record - Canal 7 - 22:30 hs), é mais um indício da retomada que está sendo feita, em todos os níveis, da música popular brasileira. A série, que pretende revelar nomes novos, é produzido pelo infatigável Walter Silva. Ele volta a tentar o que conseguiu há dez anos, quando foi responsável por shows que se tornaram históricos, por causa dos nomes que lançaram.

- Se os novos de ontem, chamam-se hoje Chico Buarque, Elis Regina, Toquinho, Taiguara, Jair Rodrigues, Marcos Valle, Jongo Trio, Silvia Maria, Adilson Godoy, Bossa Jazz Trio, César Roldão Vieira, Renato Teixeira, e outros, os de hoje começam, neste teatro, sua caminhada para um dia virem a ser tão ou mais importantes do que os de ontem.
É claro que entre esta esperança de Walter Silva e a realidade - presente e futura - existe um espaço muito amplo. E a amostra do primeiro Mixturação, gravado no Teatro Record-Augusta há uma semana, revela que este espaço não será preenchido de imediato.

Estarão se apresentando hoje o maestro Hareton Salvanine e Octeto, o cearense Pekin, Maria Cecília Moura Leme, Ederaldo Gentil, Tião Motorista, o simpático grupo Os Pagodeiros da Paulicéia, Simone, o conjunto Secos e Molhados, Maranhão, Belchior, o Pessoal do Ceará - Ednardo, Tetty e Rodger. Portanto ouviremos uma prudente mistura de muitas tendências. E de músicos novos e sem a oportunidade de um disco - Pekin ou Belchior - ao lado de novos que já gravaram - Simone ou Pessoal do Ceará - e veteranos - Tião Motorista ou Maranhão.

Crédito de Confiança - O saldo desse primeiro espetáculo não é muito animador, também porque os novos compositores selecionados nem sempre são bons intérpretes para suas criações. Quando se trata de cantoras, existe apenas a promessa de Simone ou o despropósito lírico de Maria Cecília Moura Leme. Entre os conjuntos, o descontraído Secos e Molhados é o melhor, pois o Pessoal do Ceará já está com a carreira garantida pelo nível do LP de estréia.


Mas a qualidade dos participantes não é o único problema que Mixturação terá que vencer. O mais difícil talvez seja a concorrência do final do capítulo da novela "Bem Amado", do filme do canal 13 e do programa esportivo da Gazeta. Além disso, a gravação do espetáculo de estréia, a ser apresentado hoje, foi feita com poucos recursos, dentro de um amadorismo que deveria limitar a alguns participantes.

Nada disso, porém, deve abalar o produtor Walter Silva e o apoio que ele merece. Não se pode julgar uma série de um único programa. Muito menos uma série que se caracteriza pela rotatividade do elenco e pela falta de experiência dos convidados.

Exatamente por isso, Mixturação deve ser estimulado e acompanhado por todos que gostam de música popular. Assim se for garantida uma audiência mínima será possível levar a promoção adiante. E Walter Silva logo poderá ser mais exigente, inclusive quanto aos ensaios e à seleção do pessoal.

Se isto acontecer, o nome deste produtor entrará outra vez para os registros da história da música popular brasileira. E será merecido, porque mais uma vez Walter Silva não tem medo de correr o risco e se desgastar. E promove os que não conseguem uma primeira chance através de meios mais comuns - rádios, gravadoras e mesmo TVs, saturados pela repetição de nomes consagrados.


Cartaz do 2° Mixturação 16 Abril 1973