Ballet Stagium Coreografa Música de Ednardo -
Fonte: Ballet Stagium - Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, Folha de São Paulo.2003
 

 BALLET STAGIUM DANÇA MÚSICA DE AUTORIA DE EDNARDO

Ballet Stagium
Ballet Stagium - Ensaio no
Teatro Municipal São Paulo 2003

Estreou no Theatro Municipal de São Paulo em julho de 2003, o espetáculo STAGIUM DANÇA O MOVIMENTO ARMORIAL, realizado pela consagrada e internacional Companhia Ballet Stagium.

Entre as músicas no roteiro da coreografia está a obra Pavão Mysteriozo de autoria de Ednardo, junta a outras obras de Villa-Lobos, Richard Wagner, Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira.


Ballet Stagium - Ensaio no Teatro Municipal - São Paulo 2003


Neste mais recente trabalho, o Stagium valoriza a cultura popular do Nordeste Brasileiro, procurando fixar-se nos vastos campos da literatura de cordel inspirando-se na  música, na cerâmica, na escultura, na gravura, tapeçaria, pintura, nos espetáculos de rua.

A direção e o
trabalho de análise de texto realizado por Marika Gidali busca na Literatura de Cordel um elo que flerta com o realismo mágico,utilizando este  universo musical, Décio Otero elaborou uma trilha com mixagens de músicas contemporâneas dando-lhe uma finalização de caráter modernista. A potencialidade de combinar diferentes trilhas sonoras, alternando-as, combinando-as, quebrando-as, interrompendo-as e depois retomando-as, foi a grande conquista do coreógrafo que, depois, teve apenas o trabalho de explorar os movimentos.

No repertório músicas de A. Madureira, Ednardo, Villa Lobos, Capiba, Luiz Gonzaga.
O espetáculo tem como coreógrafos convidados os bailarinos da Companhia Roberto Amorim e Lívio Lima. Além dos 18 bailarinos do elenco estão em cena o grupo de Capoeira “Ginga Menino”, do Mestre Caranguejo e 70 crianças do Projeto Joaninha.


O espetáculo é dedicado a Ariano Suassuna e ao Movimento Armorial, surgido em 1970.
 “Armorial”, que significa uma união de gêneros e estilos, também serviu de inspiração para o escritor Ariano Suassuna fundar, junto com outros artistas pernambucanos, em 1970, o Movimento Armorial, que pretendeu criar uma arte brasileira erudita, baseada na cultura popular. 




Segundo Suassuna, a iniciativa que surgiu em oposição à invasão da cultura norte-americana no Brasil, ganhou adeptos em todas as áreas, se expandido na literatura, dança, teatro e música, artes plásticas e agregando nomes como Capiba, Guerra Peixe, Antonio Nóbrega, Antonio José Madureira e Jarbas Maciel. A Orquestra Armorial de Câmara regida por Cussy de Almeida, ao contrário do que geralmente acontece, precedeu o movimento.

Coincidentemente o Ballet Stagium nasce na mesma época (1971) e, sem criar padrões, envereda-se por um caminho semelhante ao do Armorial priorizando a valorização da busca, da pesquisa, da cultura popular à serviço da formação de uma dança erudita inspirada no nacional. Literatura, teatro, música, pintura fazem do “Movimento Stagium” uma surpreendente ligação entre uma dança, antes elitizada, com o renascimento de uma forma de linguagem mais nossa, portanto mais acessível. 


Em nosso idioma, Armorial é somente substantivo. Ariano Suassuna passou a empregá-lo também como adjetivo, para qualificar os cantares do romanceiro, os toques de viola e rabeca dos cantadores – toques arcaicos, ásperos, acelerados que chegam a lembrar a música barroca.
É, portanto uma arte erudita, embasada em nossas raízes populares. A arte armorial bebe diretamente na fonte do cordel. Tira dele a narrativa dos versos, a xilogravura de suas capas, a música e suas estrofes. Literatura, artes plásticas e música, portanto interligadas por uma matriz de aparência tão humilde quanto um livro de cordel, desses que se vendem nas feiras ou nos camelódromos das cidades do nordeste.
O Stagium, desde seu início, bebe em fontes similares e nada mais justo e acertado resgatar um Movimento tão importante e tão desconhecido do nosso público. 34 anos depois as apostas do Movimento Armorial continuam válidas.
 

Folha de São Paulo - Ilustrada
5 de julho de 2003
 
"Stagium aponta raízes de um país misturado"
 Inês Bogea

Valores tradicionais do Brasil; história concreta em lugares abstratos; clássico, xaxado, coco, mamulengo, cordel e viola. "Stagium Dança O Movimento Armorial", que estreou quinta-feira no Municipal, resgata a própria essência da companhia. Desde o seu início, na década de 70, o Ballet Stagium está comprometido com um ideal político e humanista na dança: uma arte brasileira erudita, dialogando com as raízes populares da cultura do país.

O espetáculo é regido pelo roteiro musical, que vai do "Intremeio para Rabeca e Percussão" e "Rasga" de Antônio Nóbrega, passando pelo "Romance da Bela Infanta" de Antônio José Madureira e o "Pavão Misterioso" de Ednardo até as "Bachianas Brasileiras nº 5" de Villa-Lobos (1887-1959) e "Morte de Amor de Tristão e Isolda" de Wagner (1813-83). A mistura de estilos é da essência mesmo do estilo de misturas do Stagium. O país, por acaso, não é misturado?

Na primeira cena, uma visão do mundo contemporâneo, aliada à fé católica: Nossa Senhora, Diabo e cangaceiro. Fazendo pensar nas formas medievais, de religiosidade direta e irreverente, imagens como essas são postas lado a lado com a dança moderna. Máscaras inspiradas no artesão Mestre Vitalino (1909-63) cobrem os rostos dos bailarinos, para dar uma cara às recriadas festas do interior. Tudo faz par com o teatro de Ariano Suassuna, mestre e amigo ao qual o espetáculo é dedicado, criador do Movimento Armorial (nascido na década de 70, para valorizar a cultura popular do Nordeste brasileiro).

É o mesmo tipo de imagem que volta à cena mais tarde, para contar a "História de Amor e Morte de Fernando e Isaura". Teatralização instintiva, bizarra, grotesca, assim como "A História do Pavão Misterioso". Tudo aqui compõe, sem ironias de metalinguagem, um imaginário popular.
Ao fundo, o cenário (de Márcio Tadeu), com fitas coloridas trançadas e painéis translúcidos, harmoniza-se com as túnicas simples e calças soltas do elenco, que dominam a maior parte da noite. Quando a dança se libera, vem compor outra imagem lírica, musical, explorando o movimento dos corpos.
Do início ao fim, o palco é tomado por bailarinos de técnica apurada. Seus passos são do balé: "arabesques", "atitudes", "piruetas". Mas quebrados por acentos das danças populares: movimentos circulares do quadril acompanhados dos braços; passos ritmados e soltos. Destaque para Roberto Amorim (que também participou da elaboração coreográfica de Décio Otero junto com Lívio Lima), com giros precisos associados a impulsos e fluências. E Roberta Botta, que em um de seus solos (com música das "Bachianas") redobra de sentido os mil acentos de cada parte do corpo, arrematando tudo com equilíbrios impecáveis de linha clássica.
Coreógrafo que arrebatou platéias ao trazer um acento brasileiro à dança, Décio Otero continua incansavelmente seu trabalho ao lado de Marika Gidali.

O Stagium é fiel a uma linguagem da dança em que existe sempre certa hierarquia e frontalidade na cena. A estrutura da coreografia é feita de linhas, que ordenam a dança. Um grupo se alterna com o outro, em movimentos sequenciais; cada cena é independente e complementar à outra. Um gestual simbólico e ritualístico redesenha os gestos da dança clássica e transforma a cena.
Um espetáculo como esse parece deslocado? No limite da nostalgia? Reeditando projetos estéticos e políticos que ficaram para trás? Seria uma visão mesquinha, incapaz de reconhecer a grandeza de uma das companhias de maior dignidade na história da nossa dança que o Stagium continua escrevendo, com toda a sabedoria de suas convicções.


FICHA TÉCNICA

Coreografia: Décio Otero
Direção Teatral: MARIKA GIDALI
Seleção Musical e Mixagem da Trilha Sonora: DÉCIO OTERO
Cenário e Figurinos: MÁRCIO TADEU

Compositores:

ANTÔNIO NÓBREGA ANTÔNIO JOSÉ MADUREIRA, EDNARDO, VILLA-LOBOS, CAPIBA, LUIZ GONZAGA, HUMBERTO TEIXEIRA, RICHARD WAGNER.
Montagem e Mixagem da Trilha Musical: STAGIUMSOM
Desenho de Luz: DÉCIO OTERO - MARCELO JANNUZI
Coordenador de Cena: FABIO VILLARDI

Roteiro Musical:

Intremeio para Rabeca e Percussão: ANTÔNIO CARLOS NÓBREGA .
Cantiga: ANTÔNIO JOSÉ MADUREIRA.
Algodão: LUIZ GONZAGA E HUMBERTO TEIXEIRA.
Área Cantilena da Bachianas Brasileiras nº5) HEITOR VILLA-LOBOS.
Toque dos Caboclinhos: Folclore D.P. - coreografia Lívio Lima.
Baque de Luanda: ANTÔNIO JOSÉ MADUREIRA- coreografia Roberto Amorim).
Toada e Desafio: CAPIBA.
Rasga: ANTÔNIO CARLOS NÓBREGA.
Romance da Bela Infanta: ANTÔNIO JOSÉ MADUREIRA.
Morte de Amor de Tristão e Isolda: RICHARD WAGNER.
Incelência de Nossa Senhora: D.P.
Romance de Minervina: ANTÔNIO JOSÉ MADUREIRA.
Bendito de São José: D.P.
Aralume: ANTÔNIO JOSÉ MADUREIRA.
Pavão Mysteriozo: EDNARDO.
Intremeio para Rabeca e Percussão: ANTÔNIO JOSÉ MADUREIRA.

HISTÓRIAS DE CORDEL inseridas no Espetáculo:

HISTÓRIA DE AMOR E MORTE DE FERNANDO E ISAURA.
BAILE MEDIEVAL.
A HISTÓRIA DO PAVÃO MISTERIOSO.
Elenco de Bailarinos:

JULIANA FIGUEREDO, EUGÊNIO GIDALI
MARIA JOSÉ SOMMER, FABIO VILLARDI
PAULA PERILLO, LÍVIO LIMA,
ROBERTA BOTTA, MARCOS PALMEIRA
RENATA BOTTA, MÁRIO ALVES
TATIANA PORTELLA, ROBERTO AMORIM
DENISE MAÇAS, JORGE LIMA
RENATA COLLIN, EDILSON FERREIRA
VIVIANE RIBEIRO, PAULO MAGALHÃES


Vídeo & Fotos Digital: E.P. PRODUÇÕES - EDGARD DUPRAT
Grupo de Pesquisa: MARIKA GIDALI- FABIO VILLARDI- ADEMAR DORNELLES- DÉCIO OTERO.
Confecção de máscaras: HELÔ CARDOSO
Confecção de Figurinos: JUDITE LIMA
Montagem de luz: JOSÉ LUIS DA SILVA
Marketing Cultural: MASSAINI PRODUÇÕES
Divulgação: ELAINE CALUX
Coordenadora de Turnê: MARIA JOSÉ SOMMER
Coordenadora de Projeto Escola: GERALDA BEZERRA
Diagramação Gráfica: ESTÚDIO BIJARI
Administração e coordenação MARIKA GIDALI



Fonte: Ballet Stagium - Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, Folha de São Paulo

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