Jornal Diário do Nordeste - Fortaleza-Ceará 15 de Maio de 2002- Caderno 3
Jornalistas: Felipe Araújo e Dawlton Moura e Roberto Vieira
 

Pessoal do Ceará: 30 anos depois

Há trinta anos, Ednardo, Teti e Rodger Rogério se reuniam em São Paulo para gravar um marco na história da música cearense: a primeira versão do disco "Pessoal do Ceará"
FELIPE ARAÚJO
Da Editoria do Caderno 3
Foi uma aventura de sul, sorte e estrada. Na virada dos anos 60 para os anos 70, o mesmo vento terral que coroava o fim de noite na avenida Beira Mar - ponto de encontro para toda uma geração de músicos e artistas cearenses - também estufava a vela de alguns destinos. De tanto bater à porta da indiferença secular da ‘‘aldeia Aldeota’’, muita gente aperreou-se. Nomes como Fagner, Rodger Rogério, Ednardo, Belchior, Teti, Petrúcio Maia, Jorge Mello e Amelinha decidiram, então, tomar a estrada. Uns para o Rio de Janeiro, uns para Brasília. Outros para São Paulo.

Na turma que seguiu para a capital paulista, estavam Ednardo, Rodger Rogério e Teti, que, há exatos trinta anos, se reuniam por lá para gravar o primeiro - e antológico - disco daquela geração: ‘‘Meu corpo, minha embalagem, todo gasto na viagem’’, LP gravado no segundo semestre de 1972 e lançado no início de 1973. Para além de seus méritos estéticos - há quem o chame de ‘‘Sgt. Pepper's’’ cearense -, o disco é um registro decisivo na história de nossa música.

Primeiro porque marcou o início do reconhecimento público em escala nacional para o grupo de artistas que ficaria conhecido como ‘‘Pessoal do Ceará’’. E depois porque, em conseqüência disso, abriu as pesadas portas das gravadoras para outros artistas; tanto do Ceará como dos demais estados nordestinos. As histórias que pontuam o contexto da gravação do disco, porém, formam uma espécie de pequena odisséia musical, onde os Ulisses que retornaram gloriosos deixaram a terra natal embasbacada com a vitória alcançada.

Ao chegar na capital paulista - como o fizeram Rodger e Teti no início de 1972, casados e com dois filhos a tiracolo - os músicos cearenses tinham como amparo a casa do cineasta Mário Kuperman, na rua Oscar Freire 1500, no bairro de Pinheiros. A casa seria demolida em alguns meses para a construção de um prédio e Kuperman a emprestou para Belchior durante aquele período. O local acabou tornando-se ponto de referência para todos os artistas cearenses que estavam chegando na cidade e ocasionalmente servia de moradia para alguns.

‘‘Ao lado tinha outro prédio sendo construído, a poeira era imensa, o barulho maior ainda, mas à noite, quando o frenesi da construção acalmava, muitos estudantes da USP nos visitavam juntos com os operários das construções vizinhas, em sua grande maioria nordestinos, e outros artistas da cena musical brasileira que se encontravam em São Paulo’’, conta Ednardo, que desde 1971 andava pelo eixo Rio-São Paulo. ‘‘Muitos jornalistas reconhecidos também mediam em seus ‘termômetros midiáticos’ a recepção que aquele microcosmo criativo poderia ter na forma macro’’.

Um desses ‘‘termômetros’’ foi o do produtor Walter Silva, que se tornara célebre no final dos anos 60 pela descoberta de artistas como Elis Regina, Chico Buarque, Jair Rodrigues e Milton Nascimento. Responsável pela produção do programa ‘‘Proposta’’, da TV Cultura, Walter, que já conhecia Belchior, foi apresentado a Ednardo, Rodger e Teti através do programa de um radialista chamado Júlio Lerner. Na ocasião, como não havia uma marca para o grupo que estava sendo entrevistado, Lerner passou a chamá-lo de ‘‘Pessoal do Ceará’’.

Nota Correção - Aura Edições Musicais :
Walter Silva - jornalista e produtor do primeiro disco "Pessoal do Ceará, foi produtor do programa "Mixturação", gravado ao vivo pela TV Record, Teatro Record Augusta - São Paulo (1973), após a gravação do disco Pessoal do Ceará.
Júlio Lerner - jornalista e produtor do programa "Proposta" TV Cultura - São Paulo(1972), foi quem primeiro colocou o Pessoal do Ceará na mídias de TV e Rádio.
No programa "Proposta" o Pessoal do Ceará entrou em contato com Walter Silva, resultando a produção do disco e lançamento no programa "Mixturação".

Diante da recusa do MPB-4 em participar do ‘‘Proposta’’, Walter acabou convidando o tal ‘‘Pessoal’’ para seu programa. A participação dos quatro (Ednardo, Teti, Rodger Rogério e Belchior) consistia em criar músicas específicas para ressaltar traços do perfil de cada entrevistado, comentar alguma resposta ou para enfatizar as perguntas. ‘‘O Jorge Mello ia participar mas não participou porque estava no Rio cuidando de um disco que ele provavelmente iria lançar. O Fagner também não queria se afastar do Rio de Janeiro. Então, fizemos só nós quatro’’, explica Rodger. ‘‘Esse programa era interessante porque nós fizemos um exercício de composição muito grande. A cada semana a gente tinha que ter oito, nove músicas prontas. Compostas, ensaiadas e gravadas’’.

Dessa safra, saíram pérolas como ‘‘Ingazeiras’’ (Ednardo), feita para Aldemir Martins; e ‘‘Chão Sagrado’’ (Rodger/Belchior), que nasceu a partir de uma referência do compositor Paulo Vanzolini ao Ceará. ‘‘Quando, no programa, ele se referiu ao Estado, ele disse: ‘Eu já palmilhei aquele chão sagrado’’’, lembra Teti, que na época assinava Tetty. Animado com as composições, Walter decidiu produzir um LP com aquele ‘‘Pessoal do Ceará’’. ‘‘Naquele mesmo momento, Belchior e Fagner foram convidados a compor o disco, mas optaram por não participar’’, conta Ednardo. ‘‘O Walter pegou corda e queria produzir todo mundo. Mas acabou sendo só nós três porque eram os três que estavam sobrando. Já estava todo mundo encaminhado com as gravadoras’’, reforça Rodger.

Junto com Walter, os três escolheram o repertório do disco, definiram o arranjo das dez faixas, número padrão para a época em termos de qualidade de prensagem fonográfica, e se alternaram nos vocais. Diante da grande produção que vinha se acumulando para o ‘‘Proposta’’, muitas músicas ficaram de fora do disco, entre elas ‘‘Bye, bye, baião’’ e ‘‘Chão Sagrado’’, que acabariam fazendo parte do segundo disco de Rodger e Teti. As gravações, realizadas num estúdio de quatro canais, estenderam-se por outubro e novembro de 1972. ‘‘Os arranjos desse disco são bem do meu gosto. Ele usa muito os músicos, usa muita corda, usa muito metal’’, conta Rodger. ‘‘Se você escuta o disco hoje, você não acredita. Parece um disco gravado em trinta e dois canais’’, ri-se Teti.

O objetivo da gravadora Continental era lançar o álbum depois do carnaval de 1973. Mas a idéia dos três era abreviar a ansiedade e lançá-lo no Ceará logo em janeiro. ‘‘A gravadora liberou algumas cópias para que nós trouxéssemos para Fortaleza. Foi uma emoção enorme chegar aqui com o disco debaixo do braço. A repercussão dos amigos, da imprensa foi muito boa’’, lembra Rodger, seguido de perto por Teti: ‘‘Na época, era o acontecimento do momento. A receptividade foi enorme, principalmente entre o público universitário. Até porque era o primeiro LP daquela turma’’. Segundo Rodger, antes só havia um compacto de Fagner e Cirino e um compacto duplo de Jorge Mello.

Em poucos meses, o disco tinha vendido 40 mil cópias em todo o País, marca expressiva para o pequeno mercado fonográfico da época. Mas em termos de repercussão local, o que chamou atenção de Ednardo foi a ‘‘incredulidade’’ de Fortaleza com a aceitação pública nacional daquelas músicas, que falavam ‘‘de nossa realidade, com o nosso sotaque e maneira de ser’’. ‘‘No Ceará, a repercussão demorou um pouco mais. Depois de algum tempo saiu uma matéria em um jornal local que levantou a auto-estima de todos e fomos convidados a realizar show no Theatro José de Alencar e no Ideal Clube. Todos juntos foram espalhando a boa nova, já tínhamos uma música com a nossa cara e identidade’’, afirma.

Embalagem gasta

Show Mixturação - Gravado ao Vivo pela TV Record - São Paulo 1973
Ednardo, Teti e Rodger Rogério - Show lançamento no Teatro Record Augusta, do disco
"Meu corpo, minha embalagem todo gasto na viagem" - Pessoal do Ceará
Programa - TV Record - Mixturação - Gravado Ao Vivo - 1973
FELIPE ARAÚJO
Da Editoria do Caderno 3


     Lançado no início de 1973, ‘‘Meu corpo, minha embalagem, todo gasto na viagem’’ foi relançado mais duas vezes em LP com capas diferentes da capa original. O nome do disco também foi modificado para ‘‘Ednardo e o pessoal do Ceará’’. Segundo Rodger, o disco nunca saiu de catálogo e, nas edições que saíram em CD, a capa também foi modificada - inclusive na reedição lançada no ano passado pela Warner. E, assim como nas reedições que saíram em LP, sempre privilegiando o nome de Ednardo em relação ao dele, Rodger, e ao de Teti.

     ‘‘Como a música que fez mais sucesso foi ‘Terral’, depois o disco foi relançado da seguinte forma: ‘Ednardo e o pessoal do Ceará’. Eu até compreendo. ‘Terral’ estava fazendo muito sucesso. Mas que saísse ‘Ednardo, Rodger e Tetty do Pessoal do Ceará’, alguma coisa assim. Ficou essa coisa distorcida’’, afirma Teti, que, assim como Rodger, nunca foi procurada pela gravadora em nenhuma das reedições do disco. Nem mesmo para o acerto de direitos autorais.

     ‘‘Isso aí é uma coisa que se a gente tivesse procurado resolver na época, talvez tivesse resolvido. O Walter Silva (produtor do disco) até chegou a ligar para mim lá de São Paulo. Ele foi lá na gravadora, reclamou e recebeu uma grana por causa disso. Mas gente deixou pra lá’’, reconhece Rodger. ‘‘Estou procurando a gravadora novamente e acho que dessa vez vai dar para resolver essa questão’’.

     Segundo Ednardo, que também tem créditos de direitos autorais a receber desse e de outros discos, a mudança da capa se deve a uma decisão da gravadora. ‘‘Pessoalmente, gosto mais da capa original. Penso que deveria haver um critério para manter a mesma arte gráfica no CD, na medida do possível, porque os espaços gráficos também estão em formatos diferentes’’, afirma. ‘‘O assunto não pertence à esfera de nossa decisão artística quando passa para o item relançamentos’’.

     Com relação à questão dos direitos autorais, Ednardo diz que solicitou à editora que administra seus direitos autorais uma pesquisa detalhada sobre o assunto. ‘‘Muitas músicas do início de nossa carreira artística foram editadas na MWM Editora, que pertencia aos sócios Mário Buonfiglio, Walter Silva e Moracy do Val, com os quais eu, Rodger, Augusto Pontes, Petrúcio Maia, Fausto Nilo, Belchior, Tânia Araújo e muitos outros parceiros de nossa turma, em confiabilidade, assinamos contrato de edição e mandato’’, ele explica.

     ‘‘Acontece que depois de algum tempo esta editora foi ‘vendida’, entre aspas mesmo - porque nós, os autores das músicas, nunca autorizamos este repasse para terceiros e não estávamos vendendo nossos direitos’’, reforça. ‘‘A MWM agora está sob a administração dos Srs. Waldemar Marchetti e Antônio Carlos Belchior. Ao meu ver, essa transação comercial que envolve mandato, que é uma espécie de procuração ampla, só deve ser feita exclusivamente com a concordância das partes. Então, se o Rodger e outros parceiros se sentem prejudicados é necessário que tomem essa atitude conjunta para resolver a questão. Estarei do lado da dignidade, da ética e de nossos legítimos direitos’’.

     ‘‘Eu não conversei com ele mesmo porque não seria com ele para conversar, seria com a gravadora. Mas acho que isso é uma coisa menor sem muita importância’’, contemporiza Rodger. ‘‘A importância da história é que aconteceu esse movimento, que eu tenho uma satisfação enorme de ter participado’’.

 
(Felipe Araújo)

     * Desde segunda-feira, a reportagem do Caderno 3 vem tentando entrar em contato com Belchior através do telefone de seu escritório em São Paulo. Foram cinco tentativas de contato, mas as ligações não foram atendidas.

 

Identidade sem radicalismos

Capa do CD Pessoal do Ceará - Ednardo ,Teti, Rodger Rogério
DALWTON MOURA
Especial para o Caderno 3


     Não é à toa que o jornalista musical Nelson Augusto denomina o disco gravado e lançado por Ednardo, Rodger e Teti, de 1972 para 1973, de “Sgt. Pepper´s” da música cearense. Guardadas as proporções e tendo em vista a referência ao teor criativo, a comparação à obra-prima dos Beatles tem lá sua razão de ser. Mesmo hoje, às vésperas de completar 30 anos, o álbum continua soando atual, tal era seu pioneirismo para o início da década de 70.

     A produção esmerada da época possibilitou o lançamento de um vinil em capa dupla, com imagens de tradicionais rendas cearenses, dando guarida ao longo título “Meu corpo, minha embalagem, todo gasto na viagem”, cunhado pelo letrista Augusto Pontes. Mas para o disco acabou mesmo “pegando” o nome “Pessoal do Ceará”, expressão utilizada por todo o grupo que descera da Praia do Futuro para Rio e São Paulo, na aventura de sul, sorte e estrada que Ednardo tão bem descreve em “Ingazeiras”.

     O disco em si chama a atenção desde a consistência até o conceito sonoro. A tradição das rendas de bico na capa contrasta com a modernidade das canções, ao passo que também estas mantêm um pé nas raízes da musicalidade cearense. O ontem se renova e se recicla através da força criativa, em um processo que hoje muitos diriam pós-moderno, de ressignificação da “Aldeia Aldeota”, das “palmas pra dar Ibope”, da “mala no canto da sala”. Assim, foi a maneira peculiar de composição das canções - as letras extremamente particulares ao universo do “nortista”, rumando para o universal, e as músicas transpirando de referências à tradição e à modernidade - que constituiu a base necessária à concepção do álbum.Por conta desse espírito criativo, dessa inventividade que não temia resvalar no anticomercial, desde que não se limitasse ao óbvio, podemos pescar pelo menos quatro canções que se tornariam clássicos da música cearense, alcançando destaque nacional. Além da já citada “Ingazeiras”, Ednardo destila poesia e melodia em “Terral”, até hoje o grande hino do Ceará, adaptação moderna da canção ao maracatu, pé no chão e antenas para o novo, para a urbanidade nascente. O farol velho e o novo. Apagado e espantado. Os olhos do mar.

     Ednardo assina ainda “Beira-mar”, canção melódica e forte, em que a imagem tão típica aos cearenses se enche de universalidade. O sentimento de ausência, de perda, se faz reconhecer a quem quer que viva à margem da líquida esmeralda, ou mesmo a quem de tal cenário sentir falta. O mar se torna mais que o espaço físico; a imagem busca a condição humana. A noite findando como todas as demais. E nada mais.

     Fechando a participação de Ednardo, “Palmas pra dar Ibope” enche de crítica, ironia e bom humor um disco em que lirismo e questão social estão intimamente associados, mas sem prejuízo para nenhum, sem o reflexo negativo das patrulhas ideológicas à época tão comuns. Parceria com Tânia Araújo, a canção que pede palmas e fala do desassossego na aldeia, em nuvens cativas e canções radioativas, continua perfeitamente válida no Brasil das elites e dos demais.

     Entre os clássicos, está ainda “Cavalo-Ferro”, de Fagner e Ricardo Bezerra, rock que fez muito sucesso em festivais e uma das preferidas do “pessoal”. No disco, a três vozes, a faixa encontra sua melhor gravação. Os versos se deixam conduzir pelo violão simples e desinibido de Ednardo. A voz suave de Téti surge em contraponto à mais enfática de Rodger Rogério. O instrumental é “a cara” dos anos 70. Uma viagem sonora, por terras tropicamericanas, pra lá do velho mundo.À geração novo milênio, tanto de ouvintes quanto de autores musicais, “Meu corpo minha embalagem, todo gasto na viagem - Pessoal do Ceará” permanece como um trabalho a ser (re)conhecido. Um exemplo do que pode fazer a convergência entre a criatividade musical e a ânsia realizadora de jovens artistas. Um disco essencial, que diz de nós, de nossa tão propalada identidade, mas sem radicalismos ou simplificações. A partir do que foi, o que será. Olhos que de olhar querem ver o que há. Ouvidos para perceber, sentir e sublimar. Boca para calar. E cantar.

Quem é quem

Rodger Rogério -   Nascido aos 28 dias de janeiro de 1944, Rodger Franco de Rogério teve como primeiro instrumento o contrabaixo acústico. Desde a adolescência, alternava as paixões pela física e pela música, tempo em que surgiram também as primeiras canções, muitas delas em parceria com Augusto Pontes. 

Téti -     Maria Elizete Morais Oliveira Rogério, Teti nasceu a 13 de junho de 1944. A descoberta da música se deu na adolescência, florescendo mais tarde, sob o convívio de Rodger, Petrúcio Maia, Fagner, Belchior e os demais cearenses do “pessoal”.
          Após “Meu Corpo, Minha Embalagem” e “Chão Sagrado” (disco que a faz reclamar de sua própria voz, prejudicada devido a um defeito na mixagem), Teti gravou ainda “Equatorial”, em 1980, disco hoje fora de catálogo e que contou com participação especial de Fagner. 

Ednardo -      Da trinca que deu gênese ao “Pessoal do Ceará” em disco, Ednardo foi o que mais se notabilizou, permanecendo até hoje nacionalmente conhecido, em grande parte devido a sucessos como “Terral” e “Beira-mar”, presentes no disco lançado ao lado de Rodger e Teti. A consagração veio com “O romance do Pavão Mysteriozo”, álbum lançado em 1974, cuja faixa-título seria levada a todo o Brasil, através da novela global Saramandaia.

     (Dalwton Moura)

 

Faixa a faixa

     INGAZEIRAS
     (Ednardo) - Vocais: Ednardo

     TERRAL
     (Ednardo) - Vocais: Ednardo

     CAVALO FERRO
     (Fagner/ Ricardo Bezerra) - Vocais: Ednardo/ Rodger Rogério/ Teti

     CURTA-METRAGEM
     (Rodger Rogério/ Dedé) - Vocais: Teti

     FALANDO DA VIDA
     (Rodger Rogério/ Dedé) - Vocais: Rodger

     DONO DOS TEUS OLHOS
     (Humberto Teixeira) - Vocais: Teti

     PALMAS PRA DAR IBOPE
     (Ednardo/ Tânia Araújo) -Vocais: Ednardo

     BEIRA MAR
     (Ednardo) - Vocais: Ednardo

     SUSTO
     (Rodger Rogério) - Vocais: Rodger Rogério

     A MALA
     (Rodger Rogério/Augusto Pontes) - Vocais: Teti

Pessoal do Ceará - 2002

Saem Teti e Rodger. Entram Belchior e Amelinha.
 A nova versão do "Pessoal do Ceará" traz regravações de antigos sucessos e duas músicas inéditas.
ROBERTO VIEIRA
Da Reportagem do Caderno 3


Trinta anos depois da primeira versão do "Pessoal do Ceará", Ednardo, Belchior e Amelinha se reuniram no início no início deste ano para gravar o disco "Pessoal do Ceará" - 2002. O disco traz regravações de antigos sucessos ( "Terral", "A Palo Seco", "Como nossos pais", "Enquanto engoma a calça", etc.) e apresenta duas músicas inéditas criadas especificamente para o disco: "Mote Tom e Radar" ( Ednardo) e "Bossa em palavrões" (Belchior). Produzido por Robertinho de Recife, o disco foi lançado recentemente em todo o Brasil.
Em entrevista ao Caderno 3, Ednardo falou do projeto e desse novo reencontro do "Pessoal do Ceará"
Foto da Capa -  Adriana Pitiglianni
Capa CD Ednardo, Amelinha, Belchior - Pessoal do Ceará
Diário do Nordeste - O que te motivou a realizar este projeto ?

Ednardo - Principalmente a possibilidade de registrarmos em disco nosso caminho artístico, e muito legal que neste momento tenha sido com Belchior e Amelinha como parceiros e companheiros, juntamente com Robertinho de Recife, o Hélio Santos e o Márcio Rolim pilotando o aval da mesma gravadora que nos possibilitou o primeiro disco.

DN - O disco traz releituras de antigos sucessos do chamado "Pessoal do Ceará".Mexer em canções sacralizadas não é um pouco complicado ? Afinal o público já se acostumou com elas ...

Ednardo - O disco oferece duas músicas inéditas - "Mote Tom e Radar ( Ednardo) e "Bossa em palavrões" (Belchior). Quanto à presença preciosa de Amelinha, as músicas que ela canta são inéditas em sua voz. As novas leituras de alguns de nossos sucessos, em diversas fases, são intercambiadas em trios, duetos e solos, com sutis arranjos de Robertinho de Recife e excelentes músicos, que conservam o élan dos arranjos originais e fornecem outras abordagens acústicas, onde não deve ser estático o momento do próprio criador "dizer de novo" suas obras.
Poderíamos ser a cópia de nós mesmos e aí não precisaríamos entrar no estúdio porque tudo estaria pronto e já gravado em outros discos. Escolhemos a fluidez do curso do nosso rio, visitando a nós próprios com outros olhos que também são os nossos.

DN - Porque apenas vocês três participaram do disco ?

Ednardo - Recebemos convite da gravadora, delineado e formatado pelos produtores, e atendemos. Se outros de nossa turma boa fossem chamados, também seria bacana, e de nossa parte seriam bem-vindos.
Este disco se espelha no primeiro disco do Pessoal do Ceará - três artistas interpretando compositores e autores com o fio de identificação musical cearense.
O disco fica redondo assim. O respeito que a gravadora dedica às nossas músicas junta-se ao respeito às interpretações de todos, material suficiente para o novo disco do Pessoal do Ceará.
Mas é claro que existem muitos outros dignos representantes. É só o pessoal da produção e da direção artística das gravadoras chamá-los e, se for o caso, também estaremos juntos.

DN - A escolha de Robertinho de Recife para produzir este trabalho foi para torná-lo mais pop ou mais interessante para as novas gerações. Ao que parece é a quem este trabalho está direcionado ?

Ednardo - Ele nos escolheu para realizar esta produção, com a qual tem identificação artística que vem desde quando, como músico, participou em gravações e shows. Trabalhamos este mosaico musical representativo também incluindo músicas de sua autoria em nossos discos.
Em nenhum momento pretendemos direcionar nossas músicas para gerações, faixas etárias ou segmentos sociais. Nossa música tem naturalmente este caráter amplo e não excludente, o que permite que seja entendida por um universo maior sem essas preocupações desnecessárias, além do mais nossas músicas passam de uma geração a outra sem artifícios mercadológicos.