São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2001

 

 

Ednardo reaparece após 11 anos sem disco

DA REPORTAGEM LOCAL

Sem gravar havia 11 anos, o cearense radicado no Rio Ednardo -que se celebrizou nacionalmente em 1976, com a inclusão de "Pavão Mysteriozo" na novela global "Saramandaia"- está de volta para encenar o "lado B" de sua agreste geração.

"Estar sumido é uma questão de mídia, tenho trabalhado o tempo todo. Não deixei de fazer música para virar empresário ou me aliar a políticos, como exemplos do meu próprio Estado", afirma, referindo-se ("diretamente", diz) ao colega de terra e geração Fagner.

Surgido no bojo do que se chamou "pessoal do Ceará" -com Fagner e Belchior-, Ednardo, 55, quebra o silêncio com o disco "Única Pessoa", lançado pela nova gravadora Ouver.

Nele, foge ao formato que serviu para avivar nos últimos anos as carreiras de seus pares -regravações de sucessos, acústicos, CDs ao vivo- e canta autores pouco difundidos que foi conhecendo em excursões Brasil afora.

Justifica a opção, falando da rota diversa dos outros nordestinos, que lançaram CDs revisionistas pela BMG e até se uniram num "Grande Encontro": "Faltei a essa reunião porque não queria fazer discos repetidos. Para fazer isso, é só a gravadora fazer compilação".

Fazer um CD com músicas não-inéditas de outros compositores não acaba caindo no mesmo caso? "Tenho uma quantidade razoável de músicas inéditas, que não vou guardando no baú, não. Vou cantando em shows. Tenho quatro discos preparados."

Por que não lançá-los? "Foi opção total minha. O dado novo é eu cantar compositores de várias partes do país, não só nordestinos. Acredito que está digno."

Ednardo admite que solidão é um tema recorrente nas canções de "Única Pessoa". "É sintomático. Não vou dizer que durmo sempre bem, às vezes passo noites pensando sobre essa história. Muitos companheiros de geração sumiram ao posar de heróis frente a um fato real, que é o mercado. É cíclico, não depende do artista."

Reevocando sua história, admite que sua geração se contrapôs, em parte, à sua antecessora, a tropicalista. "Era natural a diferença, vínhamos de outra realidade. O Nordeste não é a realidade tropical que os baianos, os irmãos Campos e a mídia paulista pregavam. Temos ícones próprios."

"Quando Caetano e Gil foram convidados, nada gentilmente, a sair do país, os irmãos Campos nos chamaram para ouvir, queriam saber quem eram os novos." Não se interessaram? "Eles também estavam muito temerosos e preocupados com aquela violência toda. Sempre abraçaram idéias quando eram factíveis de acontecer. Nunca se preocuparam em mudar o status quo."

Ainda assim, não foge à sina de filho da tropicália. "Fomos a célula que deu prosseguimento à evolução. Não me consta que os grupos de hoje conservem essa preocupação. Eles querem vender milhões. Eu até hoje moro em casa alugada, e com muita honra", fecha o círculo. (Pedro Alexandre Sanches)

 

 

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