São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2001

 

"ÚNICA PESSOA"

Álbum esconde o (anti)pavão silencioso

DA REPORTAGEM LOCAL

Autor de ativismo importante na MPB dos anos 70, Ednardo passou tempo demais desaparecido, e é expressivo que volte com um CD batizado "Única Pessoa", que tem apenas uma canção escrita de punho próprio.

A faixa-título é uma parceria com um de seus sucessores no imaginário da música nordestina não-baiana, Chico César. As demais dão destaque a compositores do Pará ao Rio Grande do Sul, quase sempre mais novos que ele.

Parece, assim, alegorizar certa desilusão com seu ofício. Abre mão do regionalismo cearense -um dos lastros que mais o marcaram, entre obras-primas como "Ingazeiras" (73), "Pavão Mysteriozo" (74), "A Palo Seco" (74, com Belchior) e "Artigo 26" (76)- e, mais ainda, da veia autoral forte que o caracterizou.

"Única Pessoa" fica mais impactante por isso. O autor da cáustica "Abertura" (76) rejeita com veemência artifícios mercadológicos que revitalizaram (mas nem sempre) outras carreiras.

O que faz diferente? Rejeita as regravações de seus próprios sucessos, mas cala a própria voz de compositor. Agrupa canções que falam de solidão e isolamento, beijando a melancolia. Ainda isolado, faz de "Universo em Mim" o momento mais pungente: "Vou sozinho em meu deserto/ mas jamais me senti só".

Tomado pelo banzo, o autor ainda espera voltar, mas só se for sem (auto)comiseração. O (anti)pavão é misterioso, silencioso.

(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

--------------------------------------------------------------------

Única Pessoa

Artista: Ednardo

Lançamento: Ouver/GPA

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados.