USINA DO SOM

Terça-Feira, 27 de Março de 2001

APROVEITANDO O PORTAL DO TEMPO

por Sérgio Barbo

Ednardo e Renato Aragão

Sem gravar há quase dez anos, Ednardo está retornando à cena graças a vários discos que estão sendo despejados agora no mercado. Além de um álbum novo, Única Pessoa, estão sendo relançados dois trabalhos dos anos 70, Berro e O Azul e O Encarnado. Sem contar que seu maior sucesso, "Pavão Mysteriozo", está dentro do pacote de reedições de trilhas de novelas da Rede Globo, a série Campeões de Audiência. E se isso não bastasse, ele ainda planeja mais dois projetos para o final do ano.

"Já que o portal do tempo está aberto vamos aproveitar", brinca o músico cearense, declarando que seu afastamento não foi voluntário. Entretanto, mesmo distante da grande mídia, Ednardo sempre esteve presente no mercado através de coletâneas, mas, por outro lado, curiosamente não tinha nenhum álbum de carreira em catálogo. Ele credita esses relançamentos a uma certa conscientização do pessoal da indústria fonográfica. "As gravadoras têm um manancial de gravações maravilhoso e elas estão começando a ter consciência disso. E como grande parte de meu trabalho continua atual ele pode ser relançado", avalia. Contudo, apesar de estar satisfeito com as reedições, ele reclama da falta de espaço para mostrar seu trabalho atual: "A gente que continua trabalhando tem vontade de mostrar novas músicas".

Mas, agora com o novo CD, Única Pessoa, Ednardo tem a chance de mostrar que ainda está em forma. O disco, o décimo segundo da carreira, resgata sua verve poética e a sonoridade que é sua marca registrada: música híbrida, que agrega pop, blues, tango, rock, folk, mas de forte sotaque nordestino. Sempre aberto a vários estilos e experimentações - "sou um onívaro musical", diz - , ele experimenta cítara na lírica "Pedra da Lua" e acrescenta blues em "Sinal dos Tempos" - que tem a participação do conterrâneo Belchior. Outro nordestino e, por sinal, também discípulo dá as caras na faixa título: Chico César. Ele co-escreveu a música "Única Pessoa" com Ednardo, que por sua vez, sente-se lisonjeado com a reverência da nova geração. Além de Chico possuir todos os discos do mestre cearense, Zeca Baleiro costuma cantar "Terral" (música do primeiro LP de Ednardo, Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto Na Viagem, com o Pessoal do Ceará, de 1973). "Acho legal saber que minha música faz parte da música deles. Mas se eles aprenderam com a gente, eu aprendo com eles também", diz, humilde, confessando ser também admirador do trabalho de Lenine.

Pois essa humildade sempre foi uma de suas características, desde quando despontou, discreto, no começo dos anos 70 com o Pessoal do Ceará, ao lado de Rodger e Teti. Em 1974, ele surgiu com seu primeiro álbum individual, O Romance do Pavão Mysteriozo, e ninguém segurou mais seu talento. Uma música do disco "Pavão Mysteriozo" chamou especialmente atenção e foi inclusa dois anos depois na trilha da novela Saramandaia (relançada agora pela Som Livre). A música fez enorme sucesso e Ednardo ficou conhecido até no exterior, sendo regravado depois por gente como Elba Ramalho, Fagner, Ney Matogrosso, Fernando Mendes, Amelinha, Paul Mauriat e até Renato Aragão - que gravou "Terral" no disco O Forró dos Trapalhões, em 1982.

De volta à ativa, Ednardo espera recompor o pouco desse sucesso, já que prestígio ele tem de sobra. Em abril, ele inicia turnê de divulgação do novo álbum e dos dois relançamentos. "Eu não tive tempo de trabalhar aqueles discos na época, porque a gravadora não os divulgou direito", conta ele, que agora vai estar bem atarefado. Além dos três discos, ele prepara para o final do ano mais um disco ao vivo e uma coletânea de seus trabalhos para trilhas de cinema e televisão.

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