ficar anos sem gravar", diz ele, em entrevista ao Estado. Neste ano, Ednardo rompe
esse silêncio e lança Única Pessoa, pelo selo GPA Music, distribuído pela Ouver Records.
O novo álbum é, segundo o compositor, um projeto antigo. Estava gravado há quase dois
anos. "Há muito tempo eu tinha vontade de fazê-lo. Sempre coloquei nos meus discos
músicas de outros compositores e quando fui convidado a criar esse trabalho, disse que
queria fazer um disco de intérprete." O seu produtor, Guti Carvalho, insistiu para que
Única Pessoa tivesse, ao menos, uma composição de Ednardo. Felizmente, o músico cedeu.
De sua autoria é a faixa que dá nome ao disco, feita com Chico César. "A parceria com
Chico (César) nasceu na mesma época em que comecei a gravar o disco. Traçamos o perfil
do álbum nesse período, a partir da escolha de 48 músicas. E a nossa Única Pessoa foi
espécie de fio condutor."
No repertório, composições de autores muito e pouco conhecidos. Entre eles, Chico
Buarque (Futuros Amantes) e Bebeto Alves e Totonho Villeroy (Sinal dos Tempos). "Adoro
a expressão de Fernando Brant, `Certas canções que ouço tocam tão dentro de mim que não
sei como eu não as fiz', que se aplica totalmente a esse trabalho", diz. "Quis, então,
pinçar compositores de vários lugares do Brasil, desregionalizar, desmistificar essa
divisão territorial, essa coisa de dizer que a música é do Ceará ou do Rio Grande do
Sul." Essa foi justamente uma das questões presentes no começo da sua carreira, no
início dos anos 70. "É chato essa coisa de embalar a música em determinados escaninhos
de classificação. Quando chegamos a São Paulo, as pessoas não sabiam como nos
identificar e nos chamavam de o Pessoal do Ceará (os artistas Rodger, Tétty, Fagner,
Belchior, Fausto Nilo, Amelinha e outros)", recorda. "O importante é que naquele momento
a nossa criação foi muito espontânea, assim como a aproximação do público e da mídia.
O período estava muito fértil musicalmente, tanto que apareceram os Novos Baianos,
Alceu Valença, Geraldo Azevedo. Não foi um movimento, mas um ótimo momento da música
nordestina."
Ednardo e Pessoal do Ceará que, na verdade, eram todos amigos e se apresentavam no
circuito de shows de Fortaleza, chegaram ao Rio sem conhecer ninguém. "Era uma turma
boa, bastante divertida e a gente naturalmente procurou se agrupar, uma espécie de
autoproteção, a luta pelo espaço. Isso foi em 1970", conta ele. Eles moravam em
Copacabana, numa quitinete na Rua Barata Ribeiro.
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