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Ednardo está de volta...
com cinco discos de uma vez só


Cantor e compositor cearense grava novo CD e até o final do ano, tira do arquivo dois inéditos e acompanha o relançamento de dois LPs pela BMG

22/1/2001

  Foto: divulgação
Ednardo

Uma das vozes egressas do Nordeste nos anos 70, ao lado de Belchior, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Elomar, Vital Farias, Xangai e tantos outros, Ednardo estava há dez anos sem gravar. Agora, ele rompe o jejum lançando Única Pessoa pelo selo GPA Music, disco de intérprete, em que deixou de lado (por ora) sua celebrada vertente de compositor (quem é que não conhece sua Pavão Mysteriozo?). Mas não é só. Até o fim do mês, a BMG relança, em sua série 2 em 1, os velhos vinis Berro (1976) e O Azul e o Encarnado (1977) num só CD. Além desses, o compositor revela a CliqueMusic que já tem prontos outros dois discos, um ao vivo no Teatro Tuca (SP) e outro apenas com trilhas sonoras que já compôs para filmes nacionais, como Luzia Homem (Fábio Barreto), Tigipió e Calor da Pele (ambos de Pedro Jorge de Castro).

Esse afastamento de dez anos da mídia não foi voluntário, garante: "Meus produtores tentaram várias vezes apresentar meus trabalhos às gravadoras, que não se interessaram. Curiosamente, essas mesmas gravadoras nunca deixaram de lançar coletâneas ou de relançar meus discos antigos durante esses dez anos." O músico cearense, da turma de Fagner e Belchior, continua sendo prestigiado por seu público fiel pelo país. Tanto assim que em fevereiro já tem agendada uma nova turnê que começa no Nordeste e aterrisa no Rio de Janeiro depois do carnaval.

Ednardo conta que já havia terminado de gravar seu novo CD há cerca de um ano em meio e esperava apenas a época adequada para lançá-lo. "O produtor Guti Carvalho pediu para que eu levasse até ele minhas músicas inéditas, mas eu decidi mostrar-lhe um projeto que tenho há muito tempo na gaveta: o de interpretar uma seleção de músicas dos outros que tivesse um fio condutor. Por insistência dele até incluí uma parceria minha com o Chico César: a faixa-título, Única Pessoa. Mas é uma música que caía bem para o disco, que conta uma história", explica.

O cantor e compositor que não hesitou na escolha do tema que permeia todo o CD. "Quis falar nesse disco, através dos compositores que escolhi, de um tema que está muito em falta no mundo de hoje: o amor. Mas sem cair no piegas e no romantismo fácil. Tem até uma música sobre o amor político, o Sinal dos Tempos (Bebeto Alves/ Totonho Villeroy), que canto com o Belchior", diz.

De várias regiões do país
Ednardo afirma que teve uma preocupação em escalar para o disco canções de compositores nascidos ou criados em várias partes do país. Então, foram incluídos, além dos gaúchos Bebeto Alves e Totonho Villeroy, compositores do Rio de Janeiro (Chico Buarque e Antônio Cícero), Minas Geraes (Milton Nascimento), Brasília (Clésio), Pará (Nilson Chaves), Ceará (os conterrâneos Rogério Soares, Neudo, Chico Pio e Régis Soares), entre outros.

Até a latinoamericana Maria Tereza Lara, autora de Noche de Ronda, foi escalada para Única Pessoa. "Essa música eu conheci com o Nat King Cole, cantando com aquele sotaque carregado, mas ficou muito presente na minha vida. Resolvi incluir a Maria Tereza Lara porque nossas compositoras são boas, mas já são muito festejadas. Acho que o nosso país tem também que olhar mais para seus irmãos das Américas Central e Latina", justifica.

Sobre Berro e O Azul e o Encarnado, discos que voltarão na série 2 em 1, Ednardo os considera trabalhos praticamente inéditos. Tudo isso porque na época eles foram editados sem maior incentivo da gravadora - o músico estava estourado com Pavão Mysteriozo na trilha sonora da novela Saramandaia. Conclusão: seu LP de 1974, O Romance do Pavão Mysteriozo, foi supertrabalhado pela antiga RCA enquanto os outros dois foram propositalmente esquecidos. "Esses dois LPs foram lançados rapidamente entre o fim de 76 e o começo de 77, quando a gravadora recebeu o impacto do sucesso de Pavão Mysteriozo e meu disco com essa música chegou a vender 250 mil cópias em uma semana. Resultado: retiraram o Berro e O Azul e o Encarnado para concentrar-se em cima de um álbum só. Por isso são discos quase inéditos", explica.

Ópera nordestina
Assim como seu novo disco, os dois LPs antigos que agora serão relançados foram muito bem planejados. "Quando fiz O Azul e o Encarnado me inspirei no pastoril nordestino que possui os cordões azul e o encarnado (vermelho). É uma tradição que ocorre em algumas cidades como se fosse um auto de Natal, uma espécie ópera nordestina. Então, peguei o mote do pastoril e me inspirei para fazer canções mais contemporâneas. Já em Berro, inspirei-me no movimento da Padaria Espiritual, que aconteceu entre 1870 e o início do século XX no Ceará, vinte anos antes da Semana de 22, em São Paulo. Era um movimento de contestação do regime vigente, com grande tom satírico, mas que levou muitas pessoas a serem presas, exiladas e perseguidas. Então esse movimento tinha tudo a ver com a época pela qual passava o Brasil quando idealizei o disco", recorda.

Apesar de sua relação inconstante com gravadoras, Ednardo se orgulha de todos os 13 discos que realizou. "Tenho uma mania saudável de não repetir enfoques de trabalho em cada disco. Isso até dificulta meu relacionamento com gravadoras, porque quando uma música sua estoura, elas querem que você faça uma série de outras na mesma linha. Como acredito que os discos ficam mais tempo na Terra do que a gente, acho que é legal ter um cuidado muito grande ao realizá-los. Por isso sempre os fiz com muita dignidade e sempre fui muito criterioso com o que cantar e com o que dizer ao público. Também nunca tive uma preocupação exagerada com o sucesso, embora ele seja sempre bem-vindo, é claro", encerra.


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