CINEMA
TIGIPIÓ-SECA SEM APELAÇÃO
José Carlos Monteiro
Jornal O GLOBO - 1987
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"Tigipió", sólido relato sobre a seca que se abateu no nordeste em 1915 e suas ressonâncias dramáticas na vida de três personagens ( um coronel decadente, sua filha e um engenheiro), exibe inequívocas qualidades plásticas e narrativas. Espontâneo, criterioso, "Tigipió" tem a rara virtude de comunicar-se com o público sem apelações ou facilidades. Pedro Jorge de Castro, com mão firme, dribla o pitoresco folclórico e jamais incide no primarismo ideológico que tornou irritantes e vazios outros filmes sobre a seca, manancial inesgotável de peças e romances em que o fenômeno quase sempre é escamoteado a golpes de demagogia política e sentimentalismo barato.
Adaptado de um conto de Herman Lima, "Tigipió" segue as linhas gerais da história original, mas na adaptação é revestido de elementos críticos, dando-lhe uma roupagem social, sem desfigurar o original - ao contrário, o atualiza e enriquece, mostrando inúmeras virtudes : um bem dosado colorido regional, boa observação de tipos e costumes e
surpreendente capricho pictórico, sobretudo na reconstituição da época. Não há ambigüidades nem artificialismos na esmerada narrativa, em que o que prevalece é a autenticidade.Para este bom resultado, foram decisivas as contribuições dos intérpretes - principalmente: dos atores José Dumont e Regina Dourado, a música de Ednardo e a fotografia de Miguel Freire.
Eficientes e em alguns casos até brilhantes, as colaborações desses profissionais fazem de "Tigipió" um honesto espetáculo, a ser prestigiado por quem gosta do bom cinema nacional. Ó
Pesquisa Condensada Aura Edições Musicais - 2000