CINEMA

EDNARDO - O ATOR

Pedro Martins Freire

Jornal DIÁRIO DO NORDESTE- Ceará - 1987

Especial do FestRio - Festival de Cinema Internacional

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A exibição especial do filme "Luzia Homem" durante o FestRio (Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro), serviu para revelar o talento de Ednardo em mais uma área: a de ator. Seu trabalho no personagem do cordelista foi saudada com entusiasmo, e a trilha musical do filme, também de sua autoria, é vista como a grande força dramática do filme.

Quem pensa que a ligação de Ednardo com o cinema é recente, está muito enganado. Quando estudante secundarista, participou de atividades e peças em grupo de teatro em Fortaleza e assistia em média três filmes por dia. "Em 1978, eu produzi, dirigi, e fiz o roteiro e a trilha musical do filme "Cauim" - na época, o filme foi apresentado como audiovisual nos shows de lançamento do disco "Cauim" era a junção inicial do cinema, música, show numa proposta abrangente, que foi levada à muitas cidades do Brasil.

Mais recentemente, Ednardo fez a trilha musical do filme de estréia de Pedro Jorge de Castro, "Tigipió", e agora, de "Luzia Homem", e quando fazíamos a entrevista no Hotel Nacional no Rio de Janeiro, ele recebeu o convite para realizar a trilha musical do próximo filme de Pedro Jorge, "Calor da Pele".

A música de Ednardo no filme "Luzia Homem" é fundamental, e ele se sente à vontade, porque também dirige para cinema e faz música, e tem sua própria visão cinematográfica. Especialmente neste trabalho, descoberta mais plena da imagem e do som em desenvolvimentos paralelos e em conjunto.

"A imagem sugere a música ou a música já desenha a imagem, e tem também quando as duas se juntam de forma única. É fascinante esse trabalho, porque ao encontrar este sentimento, a música nos dá a capacidade de ir integrando o roteiro, às vezes subliminar, às vezes diretamente no contexto do filme."

A perspectiva de trabalhar no cinema foi aberta pela segunda vez por Pedro Jorge em "Tigipió" ( 85 ); Luiz Carlos Barreto ( o produtor do filme "Luzia Homem") tinha a muito tempo o projeto de realizar este filme, (que se concretizou em 87), Ednardo já tinha feito uma música sobre o personagem de Luzia Homem em 82, ( a música que encerra o filme, na qual ele canta com a atriz Cláudia Ohana), romance este que ele conhece desde a adolescência na época de escola, o Luiz Carlos observou o trabalho musical de Ednardo no filme "Tigipió", e no Festival de Cinema de Gramado (Rio Grande do Sul), o convidou para musicar sua próxima produção com a direção de Fábio Barreto.

"Passei a fazer um trabalho em cima do roteiro, que já tinha umas indicações feitas por Tairone Feitosa - lembra Ednardo- e da perspectiva da própria narrativa do filme nasceu o personagem do cordelista que eu interpreto. No roteiro original o personagem tinha uma posição passiva, pouco atuante, mas com as frequentes reuniões de elenco, o Fábio Barreto abriu a perspectiva de torná-lo mais rico, mais fundamental na história, então trabalhei para dar uma consistência mais definitiva ao cantador e sua viola, assim reforcei os versos e falas do personagem, com focos de releitura de Fernando Pessoa, T.S.Elliot, Nietzsche e outros poetas populares de cordel, para acentuar o lado poético, mágico e telúrico, com que os artistas da arte popular ao longo dos tempos, trabalham em seu cotidiano."

"Esta dimensão maior do cordelista explícita no filme, que enfoca uma realidade entre a miséria e a opulência e as diversas tramas sutis do enredo, coloca o poeta de cordel em conjunto com os fatos universais, como pessoa bem informada, e também detentor do saber, que está junto ao participar pelo conhecimento, do que se passa a sua volta, traduzindo em ações, versos e música. Ao colocar o valor artístico e real dos poetas de cordel, através deste personagem, tive cuidados ao relatar este universo para não cair no lugar comum do pseudo folclórico, conheço cordelistas que também lêem clássicos literários que têm formação em ciências sociais."

"No filme, o personagem do cantador de cordel é fundamental porque ele vai interferindo e descobrindo coisas, está presente nos acontecimentos, é observador e interliga os fatos, é ele que batiza a vaqueira de Luzia Homem, e tem uma cena em que com versos de cordel, revela o próprio enigma dela."

Ednardo diz que gostou de trabalhar como ator, "além do fato de atuar especificamente neste filme como intérprete de um personagem, quando a gente sobe em um palco, existe também na troca de energia com o público, o trabalho de ator, só que o veículo é mais fundamentalmente a música, e o cantor assume esta postura, na montagem e seleção de músicas de um repertório tanto de shows como em discos, está o trabalho de elaboração do roteiro do que dizer, do que cantar, do que transmitir, numa alquimia entre as muitas formas de realizar e traduzir". Ó

Pesquisa Condensada Aura Edições Musicais - 2000

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