O IMÃ FORA DOS MOLDES E CONTRA CORRENTE

João José Miguel

Revista SOM TRÊS - 1980

Ó Todos os Direitos Reservados

Ednardo certamente não é figura tipo standard, em termos de moderna MPB, numa época em que o showbizz nacional começa a brilhar conforme os moldes europeus e norte americanos, em que o profissionalismo e o pragmatismo andam melando a carreira de muitos artistas de considerável potencial criativo e em que os enlatados dominam as prateleiras das lojas, o cearense resolve nadar contra a corrente, gravando um disco chegado a aventuras experimentais.

Não que uma considerável descontração às paradas de sucesso, seja novidade na carreira de Ednardo. Afinal, em 1976 ele teve nas mãos a chance de faturar um status de superstar - antes, portanto de seus companheiros de batalha, Belchior e Fagner - ao ser cantado fartamente pelos milhões de espectadores da novela Saramandaia.

A recusa em explorar indefinidamente a fórmula do bem sucedido "Pavão Mysteriozo", terminou por gerar conflitos com a gravadora e provavelmente regou a semente que agora explode neste "Imã".

Ouvir Ednardo - dos cearenses, aquele que mais se manteve à parte da estéril polêmica com os baianos - enveredar por trilhas vanguardistas, na vigorosa "Reinverso", energia de puro repente, somada a dados orientais e a um molho de psicodelismo pop (a utilização de fitas rodando de trás pra diante nos remete diretamente aos Beatles da era de "Strawberry Fields Forever"), servem de pano de fundo a um lirismo apocalíptico profundamente instigante. Ao trabalho de cítara de Robertinho de Recife, aos trumpetes de Márcio Montarroyos, e aos diversos efeitos criados pelo próprio Ednardo com apoio das percussões de Rui Motta e Sérgio Jabur, segue-se um mergulho na simplicidade da canção que dá título ao disco "Imã", onde voz e violão transcendem a base da nordestinidade para alcançarem universos sincréticos. "Serenata pra Brazilha" segue idêntico curso.

Surpreendente vitalidade e imaginação mostram também "A Bomba Z"; "Aqui, Ali, Acolá"; "Subterrânea Canção Azul", provas ecléticas e irrecusáveis da força deste "Imã" que merece audição atenta já a partir do simples fato de ousar num tempo em que anda bem quem segue parâmetros definidos a partir de um nebuloso e manipulado gosto popular. Ó

 

Pesquisa Condensada - Aura Edições Musicais - 2000

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